Ex-trapezista ‘foge do circo’ e hoje é diretora de escola estadual no interior de SP

Ernesto Matalon

Sandra Rombi tem 53 anos de idade e nasceu em Mirandópolis, a 91 quilômetros da capital paulista. Mas já viveu em centenas de cidades até 23 anos atrás, quando se afastou de seu primeiro ofício, o de trapezista de circo, para se dedicar exclusivamente ao papel de professora, seu sonho desde criança.

Em 2024, Sandra completa 10 anos à frente da direção da Escola Estadual Professor David Golias, na cidade de Valparaíso (a 563 quilômetros de São Paulo) , onde fixou morada com os dois filhos. Hoje em dia, ela continua seguindo o circo por onde ele vai, mas para visitar os pais, que são donos do espaço de espetáculo viajante.

“As pessoas costumam dizer ‘tal pessoa fugiu com o circo’ e posso dizer que foi o que aconteceu com o meu pai, que seguiu as irmãs que se casaram com homens circenses aos 14 anos, comprou o próprio circo aos 18 anos, conheceu a minha mãe aos 20 anos e ela deixou a casa dos pais para acompanhá-lo. Eles estão juntos nessa paixão e trabalho até hoje. Desde criança, eles valorizaram muito os meus estudos e dos meus irmãos gêmeos, tanto é que posso dizer que fugi do circo para seguir meu sonho de ser professora, sempre com o apoio dos meus pais”, conta Sandra.

Aos 20 anos de idade, Sandra deu início à formação em Letras e posteriormente à de Pedagogia. Aos 23, já atuava como professora e manteve dois empregos — o de trapezista de circo e docente —, até os 30. Atualmente, quando vai até a cidade onde o circo está montado aos finais de semana para visitar os pais, apoia ambos na bilheteria. O pai, vez ou outra, faz as apresentações de palhaçaria, mas assim como Sandra, os genitores também são ex-trapezistas.

“Quando eu ainda fazia trapézio e o circo vinha até a cidade, não contava aos meus alunos e eles chegavam às apresentações aos finais de semana, se deparavam comigo no picadeiro e achavam aquilo maravilhoso. Hoje em dia, eu trago o espetáculo para dentro da escola e compartilho minhas experiências circenses, misturando o aprendizado com mágica e música, por exemplo, para atrair a atenção dos estudantes”, avisa a diretora.

Assim como Sandra, o filho de 30 anos seguiu carreira na docência. Já a filha, de 17 anos, pretende fazer faculdade de farmácia. O circo continua sendo 100% familiar.

“O que eu mais gostava quando criança era de brincar de escolinha e meus pais faziam questão que eu não faltasse a nenhum dia da escola, independentemente da cidade em que estávamos com o circo montado. Ter tido essa oportunidade e se eu não fosse persistente quanto aos meus estudos, não estaria onde estou hoje. Por isso, eu sempre mostro para os estudantes da minha escola que eles podem ir longe, enfrentar adversidades e conquistar seus sonhos”, diz Sandra.

Sandra reconhece os avanços da educação nos últimos anos, que beneficiam os estudantes em itinerância — que podem ser os que moram no circo, ou parques. “Hoje, meu sobrinho de 17 anos, se muda de cidade e em qualquer escola que ele vá, o conteúdo será o mesmo naquele bimestre, por conta do currículo unificado pelo Estado. Além disso, meu irmão faz questão de ter internet para que ele tenha acesso às plataformas de apoio à aprendizagem disponibilizadas pela Secretaria da Educação”, destaca.

Alunos circenses

A diretora da escola em Valparaíso lembra que as crianças e adolescentes dos ensinos Fundamental e Médio e até adultos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em itinerância têm direito a matrículas nas escolas estaduais. As regras de matrícula preconizam, por exemplo, que assim que eles estiverem de mudança para outra cidade, que a escola entregue o histórico escolar imediatamente aos responsáveis, para que a próxima unidade de ensino dê seguimento à sua vida escolar sem prejuízos ao ensino-aprendizagem.

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