Durante décadas, os biotipos corporais foram tomados como uma verdade absoluta nas academias, dietas e até mesmo no senso comum. Divididos em três categorias — endomorfo, mesomorfo e ectomorfo — esses perfis físicos prometiam explicar a facilidade ou dificuldade de cada pessoa para ganhar peso, perder gordura ou construir músculos. Mas, afinal, será que essa classificação dos biotipos corporais ainda se sustenta diante dos avanços da ciência ou é apenas mais uma relíquia das crenças do século passado?
O conceito dos biotipos corporais foi popularizado pelo psicólogo norte-americano William Sheldon nos anos 1940. Ele acreditava que a forma física do indivíduo estava diretamente ligada a sua personalidade. Embora essa associação entre corpo e comportamento tenha sido amplamente desmentida, a ideia da existência de três tipos físicos principais — o endomorfo, mais arredondado e com tendência a acumular gordura; o mesomorfo, atlético e com facilidade para ganhar músculos; e o ectomorfo, magro e com dificuldade de engordar — permaneceu viva no imaginário coletivo.
Hoje, muitos profissionais da área de saúde ainda usam a ideia dos biotipos corporais como ponto de partida para orientar treinos e dietas. De fato, cada pessoa nasce com uma predisposição genética que influencia na estrutura corporal, metabolismo e resposta aos estímulos físicos. Mas a rigidez dessa divisão é amplamente questionada. Afinal, ninguém é 100% endomorfo ou 100% ectomorfo. A maioria das pessoas é uma mistura dos três perfis em proporções diferentes, o que torna a categorização simplista e, muitas vezes, imprecisa.
Outro ponto a se destacar é que os biotipos corporais ignoram fatores fundamentais como o histórico de vida, o ambiente, a alimentação, os níveis de estresse e o estilo de vida da pessoa. Esses elementos moldam o corpo de forma muito mais significativa do que a estrutura óssea ou a herança genética isoladamente. Ou seja, a ideia de que alguém é “condenado” a ser gordo ou magro por causa do biotipo é, além de ultrapassada, perigosa.
A classificação dos biotipos corporais também tem sido criticada por reforçar estereótipos e por limitar a percepção das pessoas sobre sua própria capacidade de mudança. Alguém que se vê como “ectomorfo” pode achar que jamais conseguirá ganhar músculos, quando na verdade só precisa do estímulo certo, aliado a tempo, disciplina e nutrição adequada. O mesmo vale para o “endomorfo” que acredita estar fadado à obesidade e, por isso, desiste antes mesmo de tentar.
A ciência atual, especialmente a fisiologia do exercício e a nutrição, caminha no sentido de personalização. O foco hoje está nos dados concretos, como composição corporal, exames hormonais, taxa metabólica, entre outros. A era da “receita de bolo” baseada em biotipos está ficando para trás, dando lugar à individualização de treinos e estratégias alimentares. O corpo humano é complexo demais para ser resumido a três palavrinhas.
Em resumo, os biotipos corporais — endomorfo, mesomorfo e ectomorfo — podem até servir como referência inicial para se observar algumas tendências físicas, mas não devem ser encarados como rótulos imutáveis. O corpo muda, responde, se adapta e evolui. Ninguém está preso a um molde. No fim das contas, o que define o que você pode alcançar não é o seu biotipo, mas a sua constância e disposição para lutar por seus objetivos.
Autor: George Sergei